A realidade das quadrilhas juninas no São João 2020
  • Quadrilha Dona Matuta | FOTO: Andréa Rêgo Barros
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  • Quadrilha Lumiar | FOTO: Andréa Rêgo Barros
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  • Quadrilha Lumiar | FOTO: Andréa Rêgo Barros
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  • Quadrilha Rosa Linda, Linda Rosa | FOTO: Divulgação
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  • Quadrilha Rosa Linda, Linda Rosa | FOTO: Divulgação
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  • Cleiton Maia, da Dona Matuta | FOTO: Samuel Calado
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  • Cleiton Maia, da Dona Matuta | FOTO: Divulgação
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  • Stephany Santiago, da Raio de Sol | FOTO: Divulgação
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Com a impossibilidade de se apresentar este ano, os grupos têm encontrado dificuldades. Integrantes nos contaram sobre este ano atípico e como eles estão se virando sem ter as tradicionais festas juninas

A rápida propagação do novo coronavírus fez com que o mundo parasse e os eventos com grande aglomeração de pessoas ainda estão suspensos aqui no Brasil. Mas para nós, nordestinos, o mês de junho é sinônimo de festa, celebração e muita dança, é tempo de reunir os amigos, encontrar um par e ir dançar quadrilha, afinal é festa de São João. Mas, infelizmente, os festejos deste ano precisaram ser cancelados e os tradicionais festivais de quadrilhas juninas não vão acontecer, deixando os amantes da dança com tristeza e fazendo com centenas de pessoas fiquem sem o trabalho que amam e os mantém. A maioria, sem apoio ou meios que ajudem a enfrentar a realidade de um ano tão atípico.

Os organizadores precisaram traçar estratégias para diminuir a tristeza da distância. Os integrantes da quadrilha junina Rosa Linda, Linda Rosa, da cidade de Paudalho, no interior do Estado, sabem bem disso. Eles, que segundo a direção, são a quadrilha mais antiga em atividade em Pernambuco, buscaram na internet uma aliada. “No atual cenário, estamos usando o recurso das redes sociais para dinamizar o ciclo, oportunizando que a memória afetiva preserve a tradição e supere a saudade. Postagens de momentos históricos e antigos, vão mantendo os vínculos. Faremos uma live com data a marcar para pontuar o que seria o espetáculo 2020 e um pouco da nossa trajetória”, contou Luiza Valquiria, que integra a diretoria.

A Dona Matuta, do Recife, vencedora de importantes prêmios estaduais, também precisou se reinventar. “A gente, enquanto quadrilha, precisou repensar sobre formas de conduzir (reconduzir) a gestão com o grupo. Muitos desafios num curtíssimo tempo. Pensamos em desenvolver ações e conteúdos que pudessem atrair a atenção e estimular a interação não só dos integrantes da quadrilha, mas também de um público que gosta da Dona Matuta. Fizemos uma live solidária para arrecadar mantimentos para ajudaras quadrilhas e quadrilheiros que sofreram perdas financeiras com o impacto da COVID-19”, explicou coordenador do grupo, George Araújo, que também contou que estão com uma série de vídeos no YouTube contando sobre toda a produção que tinha sido preparada para as apresentações deste ano.

A Lumiar, outra quadrilha recifense, que também é campeã de importantes festivais juninos, tem procurado ficar próximo dos integrantes. “Desde o início da segunda quinzena de março, nós paramos todas as nossas atividades, assim como os ensaios. Nós viemos de um processo de produção, de construção de figurino. E estávamos já com 80% do trabalho de estúdio, de pesquisa, coreográfico e o nosso repertório. Todas as compras que foram feitas para o figurino tiveram que ser suspensas. A partir daí, precisaríamos entender como seria o nosso São João”, disse o presidente e marcador da Lumiar, Fábio Andrade.

“Ao perceber que tudo tinha mudado começamos a usar estratégias para nos manter próximos, nos grupos internos, fazendo algumas lives interativas com os componentes e depois com lives mais elaboradas para o público geral. Assim, estamos até agora nesse processo para a saudade não doer tanto. No final de maio e início de junho, a ficha foi caindo ainda mais e o pessoal da Lumiar tem sido convidado para participar de outras lives e concursos virtuais também estão sendo feitos. Tudo isso tem nos divertido e é assim que estamos passando o São João”, completou o presidente da Lumiar.

Fábio disse ainda que eles têm procurado otimizar o tempo já pensando na próxima grande festa. “Espero que isso passe logo e a gente volte para as atividades. Esperamos que o próximo São João chegue logo e o nosso novo espetáculo, intitulado de Tieta, que seria este ano foi transferido para o ano que vem e está guardadinho. Estamos usando esse período para revisar e melhorar ainda mais o espetáculo, aproveitado também que a novela está passando de novo. Temos aproveitado o tempo da forma mais positiva possível. Vamos tentar manter essa energia”.

Um ano sem dança

Para os quadrilheiros, que são fundamentais para que o grande show aconteça nos arraiais do estado a fora, também estão sentindo muito o cancelamento dos eventos. “Difícil, como para todas as áreas da cultura. Não é fácil saber que esse ano não haverá arraiais. Nós fazemos São João para o povo e para continuar propagando a cultura. E não ter isso, não ver o olhar de encantamento de cada pessoa na plateia, não ter aplausos, não sentir a ansiedade a cada entrada, não sentir a emoção de viver o São João, dói. Mas como uma das componentes disse ‘É uma dor diferente’ que só quem vive isso vai sentir nesse momento”, desabafou a bailarina Stephany Santiago, integrante quadrilha junina Raio de Sol, de Olinda.

“Para nós, quadrilheiros, o ano de 2020 será um ano que jamais cairá no esquecimento, mesmo querendo que isso aconteça, de certa forma. Foi um ano que marcou o ciclo junino de forma muito irreversível, muitos sonhos foram paralisados, pois muitos brincantes vivem São João o ano inteiro, são meses preparando o projeto para que no mês de junho tudo esteja da forma como planejado, muitas quadrilhas começaram a preparação de ensaios para 2020 ainda em 2019”, relatou o bailarino Cleiton Maia, que atua em quadrilhas há 24 anos.

Atualmente, faz parte da Dona Matuta e completa: “algumas quadrilhas já haviam iniciado produção de figurino, estavam em estúdio de gravação, a parte coreográfica praticamente toda elaborada e tudo foi interrompido. A necessidade de paralisar as atividades foi um baque para todo o movimento junino, foi muito triste ter que parar os processos sem nem saber quando voltaríamos, muitos quadrilheiros começaram a manifestar saudade dos ensaios em suas redes sociais, porque é o período mais gostoso para quem dança quadrilha”, disse Cleiton.

Os ensaios começavam cedo e os quadrilheiros se dedicavam durante meses para poder chegar bem preparados. A semana deles era sempre bem movimentada e produtiva. “Tínhamos três ensaios, porém fixo aos domingos. Quarta, para tirar dúvidas, e sábado, só quando chegasse mais próximo a estreia, que esse ano seria em maio. Normalmente, nós retornamos em novembro, porém esse ano foi um pouco diferente, pois o Grupo Matulão, que é composto por componentes da quadrilha Raio de Sol, participou da abertura do carnaval do Recife com Antônio Nóbrega. Então, começamos em fevereiro, lembrou Stephany, que teve o seu último ensaio no dia 15 de março.

A triste falta de apoio

Cancelar os eventos traz também uma outra realidade dura, a da falta de recursos para que as pessoas que vivem e dependem das apresentações se mantenham. Sem apoio municipal ou estadual, os grupos se veem desamparados. “A falta de editais emergenciais acreditamos ser um problema porque muitas pessoas e grupos dependem da cultura para sobreviver. Seria minimamente uma ação de empatia considerar um pensamento voltado para o setor da cultura neste momento”, lamentou o coordenador da Dona Matuta, George Araújo.

“Não há nenhum apoio ou recurso direcionado a preservação e manutenção no momento, não há política pública permanente em nossa cidade e sequer recebemos informações oficiais do órgão competente em relação a não realização das festividades juninas. Nenhuma proposta ou diálogo foi proposto, enquanto busca de alternativas e nossas dificuldades para não desaparecer em meio a pandemia. A impressão que nos dá é que não importa. Sobreviver a tudo isso é difícil, sem estratégias parcerias, sem apoio”, revelou Luiza, sobre a falta de comunicação entre a Rosa Linda Linda, Rosa e a Prefeitura de Paudalho.

Essa situação também tem gerado insatisfação na coordenação da Lumiar. “Não estamos recebendo nenhum tipo de apoio e não chega aos nossos conhecimentos incentivos à cultura. A falta de editais emergenciais tem atingido todos os seguimentos culturais, principalmente as quadrilhas que está na marginalidade de prioridades. E olhe que somos um forte movimento cultural em todo o Brasil, que envolve um número grande de artistas, espetáculos grandiosos que geram movimentos na cultura, economia e geram renda”, lembrou Fábio, da Lumiar.

“Somos uma grande potência cultural e é vergonhoso a falta de atenção com a cultura. E para nós não tem nada emergencial nesse período e para passar por isso estamos nos segurando no amor que sempre tivemos. A prefeitura do Recife fez um material para a gente fazer uma live e pagaram um cache referente a um polo, mas a gente não tem muita certeza da subvenção de 2020. Falam que vai ser liberado, mas a gente ainda está esperando um posicionamento concreto”, completou Fábio, sobre o processo de atenção, incentivo e apoio que não tem acontecido.

“A gente tem contato através das nossas entidades e daí é que a gente tem negociado possibilidades do que venha nos socorrer nessa situação de um ano sem São João, mas ainda são coisas que esperamos respostas. Vamos ter uma participação em uma live da prefeitura, cada quadrilha gravou um material para enviar e recebemos o cachê de um polo que é muito pequeno e as outras negociações ainda esperamos respostas concretas”, ponderou.
Sem expectativas de ajuda, Luiza, da Rosa Linda, Linda Rosa, lamentou as dificuldades de diálogo existentes entre os governos municipais e estadual.

“Do poder público municipal, não há perspectivas até o momento, não houve movimentação de apoio. Em relação ao estadual, temos dificuldades em virtude da burocracia para acessar esses recursos a nível estadual. Fazer cultura não é fácil, temos uma linda história, uma trajetória de 44 anos de atividade agregando a esse um trabalho social. Ser a quadrilha junina mais antiga em atividade do estado de Pernambuco não nos coloca em campo privilegiado. O risco de inexistência a cada ano é grande, temos um material humano excelente, mas o entorno põe em risco a sobrevivência. Esperávamos apoio, dialogo, valorização a contribuição cultural que oferecemos, pois somos parte da construção da história cultural do estado, somos patrimônio”.

Para George, da Dona Matuta, é muito significativo criar ações que ajudem os quadrilheiros a se manter e a mostrar a cultura mesmo que de uma forma um tanto quanto diferente neste ano. “A Prefeitura do Recife lançou um edital para o São João do Recife, onde quadrilhas e artistas locais farão apresentações virtuais, ao vivo e por meio de gravação de vídeos. Foi uma iniciativa importante para marcar as festividades tradicionais do São João na nossa cidade, bem como uma forma de não deixar os grupos parados”, comemora.

Editais culturais de emergência para o cliclo junino 2020?

A Prefeitura Municipal do Recife lançou um edital para dá apoio a grupos juninos e vai promover lives com algumas quadrilhas juninas, mas o edital não traz muitos detalhes sobre a remuneração e programação para as quadrilhas. Além disso, o edital ficou aberto para inscrições menos de uma semana (de 09 a 15/06). Entramos em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura para saber mais detalhes e como esse edital iria beneficiar os quadrilheiros, mas não obtivemos resposta. Na coletiva de imprensa do São João, que acompanhamos via transmissão ao vivo, foi informado que a subvenção (apoio financeiro) que existe para as quadrilhas só iria ser repassado na volta das apresentações.

Perguntamos qual a justificativa de não ser repassada esse ano, logo quando as quadrilhas precisam tanto de ajuda, devido à pandemia, e se ações online ou remotas são possíveis com as quadrilhas também. Inclusive, haverá transmissão de shows de música no Sítio da Trindade, polo tradicional do São João do Recife, onde acontece os concursos de quadrilhas. Também haverá circulação da forrovioca (espécie de trio elétrico) por bairros da cidade, com shows de música. Iniciativa para não deixa a música parar no São João. O edital em questão contemplou, praticamente, só a área musical. Mas as quadrilhas foram incluídas apenas numas lives para promover debater.

Ações mais concretas para promover a cultura das quadrilhas, porém, não foram realizadas, mesmo com patrocínio da iniciativa privada (Ambev). Infelizmente, nem dentro da própria área cultural há uma igualdade de linguagens artísticas. A dança (e outros grupos de cultura popular) sempre recebe cachê menor (e quando recebe). Procuramos ainda a Prefeitura Municipal do Paudalho, que não se manifestou sobre o assunto até a data da nossa publicação. Já o Governo do Estado nos respondeu que “a programação do Ciclo Junino tem sido tratado pelo Gabinete Estadual de Enfrentamento à Covid-19 e será divulgada no momento oportuno”, mas até o fechamento desta matéria, não houve nenhuma divulgação.

Como mostrar arte mesmo sem festa?

Com a impossibilidade de ir para a rua dançar de novo, o jeito é usar a tecnologia a favor da cultura, participando de eventos online. “Alguns convites foram feitos para participação de festas particulares e ações sociais, algumas presenciais, outras de forma remota em tempo real e outras gravadas”, revelou George sobre a participação da Dona Matuta em eventos virtuais. Já a Rosa Linda, Linda Rosa nos contou que até o momento da entrevista não tinha nenhum evento confirmado, pois estão colocando todos os seus esforços na tentativa de manter a tradição vida.

“Estamos apenas focados em atividades na rede da instituição, que tem todas as limitações possíveis para realizar quaisquer atividades, salientando que o que vem mantendo as atividades é o esforço de sua diretoria e muitos amigos que mantem as atividades que hora realizamos, que deixaram de ser permanentes em virtude das dificuldades financeiras. A quadrilha Rosa Linda tem como princípio preservar a essência das festividades juninas, agregar a seus participantes os projetos realizados contribuindo na formação, vivemos de luta e sonhos”, finalizou Luiza.

“As quadrilhas tiveram que se reinventar para que o período junino não passasse em branco, muitas foram criando conteúdo virtual para seus brincantes, para que nesse momento tão triste e difícil tudo fosse superado de uma maneira menos dolorosa, sempre enfatizando o quanto é importante seguir as recomendações de proteção para que num futuro muito próximo tudo pudesse voltar ao normal e todos conseguissem brincar mais um São João”, comentou Cleiton que cresceu dançando quadrilha e já passou por diversas organizações, mas que nunca tinha visto uma realidade tão inesperada.

Expectativas

Somente a esperança de que dias melhores virão vai fazer com que os quadrilheiros passem por este momento tão difícil. “Tenho certeza que as quadrilhas, mais uma vez, irão se unir para enfrentar todos os obstáculos que estão por vir. Talvez, um Arraiá fora de época seria muito interessante para matar a saudade e levantar os ânimos dos quadrilheiros. Tudo vai ficar bem, no novo normal. Não vai ser fácil, mas no ‘ombro a ombro e lado a lado’ vamos proporcionar um próximo São João inesquecível”, declarou Stephany Santiago, bailarina há cerca de 15 anos e segue em quadrilhas há sete anos dançando pela Raio de Sol.

Espetáculos inesquecíveis também é a expectativa de Cleiton. “Todo quadrilheiro é extremamente apaixonado pelo que faz independente do papel que ele desempenhe dentro de um espetáculo junino. Sem muita explicação, só quadrilheiro sabe a emoção de ver um trabalho pronto e dentro de quadra, mas a certeza de que logo, logo estaremos juntos novamente é que faz esse ciclo girar, que 2021 chegue logo, pois tenho certeza que esse primeiro contato será lindo e terá um gosto de renovação! ”, falou o quadrilheiro sobre a espera por tempos melhores.

Texto: Aline Antunes
Edição: Maíra Passos

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